Psicoterapia: uma saída

Psicoterapia: uma saída

Estive a procurar informações que me ajudassem a escrever um texto sobre a Psicoterapia, os seus benefícios e o que é fazer um processo psicoterapêutico. E a meio da pesquisa, desisti. Nada do que eu lia poderia estar à altura daquilo que sinto, daquilo que percebo ser um processo terapêutico ou fazer parte de uma psicoterapia. Estar do lado de cá como psicoterapeuta e ter estado do lado de lá como cliente, faz-me sentir que tenho os olhares para escrever sobre o assunto livremente, sem a preocupação de encontrar a terminologia mais adequada e mais correta para falar de um assunto tão grandioso segundo a minha visão.

Definir um processo psicoterápico não é simples, porque de simples não há nada. É um processo complexo e que exige muita coragem de quem está de ambos os lados. Fico sempre a pensar (e por vezes expresso à pessoa que se coloca na minha frente pela primeira vez), na imensa coragem por ela se sentar naquela poltrona e se despir dos seus medos, inseguranças e revelar a um estranho os seus segredos mais bem guardados. Admira-me a sua disposição, nem sempre espontânea, em expressar os seus sentimentos ambivalentes e falar da sua dor. Imagino que ao entrar em contato com aquilo que lhe traz desconforto, ela tenha a sensação clara de estar encurralada naquele momento da vida ou há mais tempo.

Estar num processo com um psicoterapeuta pressupõe sim a coragem de olhar-se no espelho e consciencializar-se da dor e da beleza de ser quem é. Surpreender-se claramente com o seu lado menos bom, as suas fraquezas, a sua falta de competência para gerir a sua vida pessoal e profissional. Olhar para as suas diferentes facetas e chorar, por vezes chorar muito! A caixa de lenços ao lado da poltrona do cliente é sempre a sua melhor companhia, lenços acolhedores da expressão da dor, da mágoa, das coisas que parecem estar na casa do “sem jeito”.

Do lado de cá, nós terapeutas, ansiamos por também acolher aquelas lágrimas, tão dolorosas que também nos fazem chorar. O nosso profissionalismo prevê a contenção, nem sempre possível, destas nossas lágrimas diante do sofrimento daquele ser humano que nos vem pedir ajuda. Mas as nossas emoções lá estão e a nossa disponibilidade para ajudar, através da nossa presença, do nosso olhar, das nossas palavras e do nosso saber, são a tentativa de possibilitar àquela pessoa, encontrar uma saída para a sua vida.

Para quem já esteve alguns anos no lugar do cliente, como eu, não é difícil ser empático, compreender o que este sujeito em sofrimento sente. Não é difícil imaginar a quantidade de tentativas falhadas que esta pessoa fez para lidar e por vezes livrar-se das sensações e das emoções tão angustiantes e devastadoras que ora demonstra.

Compreender e aceitar o que somos e o que temos neste momento da nossa vida é o início de um processo por vezes curto, por vezes longo, de encontrar um lugar para a nossa história passada e possibilitar uma história futura. A esperança de sentir-se e viver melhor e construir ou reconstruir novas relações com os outros mas, especialmente, consigo próprio, é o nosso grande desafio. Surpreender-se com o potencial que cada um tem de ser capaz de mudar a sua própria trajectória, é o objectivo que traçamos com quem está à nossa frente.

Alguns terminam a jornada da busca de ser quem é, outros param a meio e outros apenas iniciam, sabendo que um dia terão que voltar a tentar enfrentar o maior desafio das suas vidas: sentir-se bem, ser feliz, fazer feliz, amar e ser amado.

Viver plenamente os melhores papéis da nossa história: sermos filhos, pais, namorados, companheiros, esposas, amigos, avós…mas sobretudo seres humanos que dada a sua natureza humana, são fracos, são frágeis, são fortes, são corajosos e em determinados momentos da vida precisam de uma ajuda específica, profissional, da ajuda dos psicoterapeutas que se dispõem a ouvir, olhar, acolher, fortalecer e encontrar saídas para as suas dores, seus sintomas, suas tristezas e seus problemas, sejam grandes ou pequenos. A nossa ajuda não implica julgamento mas sim compreensão, sigilo e uma parceria nesta caminhada que é viver bem a vida que escolhemos viver!

Clara Cruz

Psicoterapeuta

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