Mala de primeiros socorros para lidar com as Birras

Mala de primeiros socorros para lidar com as Birras

Como lidar com as birras é um tema que preocupa bastante os pais e intervenientes educativos que nos procuram e causa frequentemente grande desgaste e cansaço.

“Ele atira-se para o chão quando é contrariado. Depois começa a gritar. Quando o repreendo ainda me bate…”

“O que é que eu faço?” é a questão que mais se coloca, tornando-se um dilema desgastante e que por vezes leva os cuidadores a questionarem a educação que estão a dar aos seus filhos.

Seria fácil se houvesse um xarope ou comprimido para as birras, mas evitar e/ou lidar com as birras é mais complexo e embora não haja um remédio eficaz para acabar com elas, existem algumas orientações a ter em conta para minimizar estes comportamentos, embora se tenha sempre de considerar as características individuais de cada criança.

Se em todas as casas, escolas, parques infantis, supermercados fosse obrigatório uma mala de primeiros socorros para lidar com as birras, o que teria esta mala no seu interior?

De forma metafórica, apresentamos alguns itens fundamentais a acondicionar nesta mala de primeiros socorros para “dar conta das birras”, antes que elas “deem conta dos pais”.

LIMITES: estabelecer limites claros e consistentes é fundamental, a criança precisa lidar com o “não”, um “não” que se mantenha ao longo do tempo, sem cedências, isso traz-lhe estabilidade e permite-lhe perceber até onde poderá ir;

SEGURANÇA: transmita segurança, confiança ao definir as regras, diga-as com convicção;

CONFIANÇA: a criança precisa sentir confiança em si própria, perante a negação conseguirá lidar melhor com as emoções negativas, quanto mais segura de si própria for;

VÍNCULO: é fundamental a existência de um vínculo de qualidade com os pais, que lhes permita ter a segurança necessária para lidar com os limites e negações;

CONSISTÊNCIA: os pais devem definir as mesmas regras e serem consistentes na sua aplicabilidade;

PERSISTÊNCIA: os pais devem ser persistentes e também pacientes, pois a modificação dos comportamentos leva algum tempo e é importante não desistir para conseguirem verificar resultados mais efetivos;

EXPETATIVAS: as expectativas devem ser ajustadas, não espere logo uma evolução repentina, deve adequar as expetativas e valorizar as evoluções gradualmente;

TOM DE VOZ E POSTURA: comunique de forma clara, convicta, acreditando que os limites estabelecidos são o melhor para o seu filho;

EMOÇÕES: meçam a intensidade das emoções da criança, identifiquem-nas em conjunto, falem sobre elas. A dificuldade em lidar com emoções negativas poderá desencadear irritabilidade e birras difíceis de lidar.

Por detrás de uma criança mal comportada, poderá estar uma criança infeliz, poderá estar uma criança sem limites ou poderá estar uma criança a precisar de atenção. Por isso, esta mala quando bem utilizada, com a consistência e persistência necessárias, poderá levar à diminuição de birras constrangedoras para os pais, que os desgastam e entristecem vezes sem conta em variados contextos. Porém, não é fazer um curativo que sara a ferida, ou seja, vai ser preciso recorrer à mala de primeiros socorros as vezes necessárias para que a ferida sare sem deixar marcas, isto é, para que os comportamentos sejam assimilados de forma natural e saudável pela criança. Tal como é importante saber o que causou uma ferida para fazer o curativo, também nas birras é importante saber o que está a despoletar na criança a necessidade de se expressar com birras frequentes, para tentar adequar a forma de lidar com a situação. Se a criança estiver infeliz, é necessário compreender os motivos que deixam a criança assim e tentar solucionar o problema. Se a criança não tem limites, está na altura de assumir que o papel dos pais para além de mimar também é incutir limites às crianças e clarificar o porquê desses limites, explicando que querem sempre o melhor para os filhos. Se a criança estiver a precisar de atenção, é necessário repensar o tempo dedicado à criança e a qualidade do mesmo e averiguar porque ela se sente assim. Por isso, antes de entrar em ação para minimizar estes comportamentos de birra é crucial perceber a causa dos mesmos. Depois, abra a mala de primeiros socorros, reflita sobre todos os itens enumerados e dê tempo à criança para modificar os seus comportamentos.

Os comportamentos de choro, gritos e agitação física tornam-se cansativos para os pais, mas também para a própria criança. Como tal, com o passar do tempo e com a devida comunicação e reflexão conjunta com a criança, ela vai acabar por perceber que as birras só servem para despender energia em vão e começa a entender que os limites estabelecidos pelos pais são para ser respeitados, com ou sem birras, deixando de lhes atribuir funcionalidade com o passar do tempo. Mas para isto acontecer, não se esqueçam de adequar na dose certa: limites, segurança, confiança, vínculo, consistência, persistência, expectativas, tom de voz e postura e emoções. Envolvam cada curativo de amor e carinho, porque são sempre o melhor remédio.