E se o meu filho trouxesse um manual de instruções?!

E se o meu filho trouxesse um manual de instruções?!

Será que conseguiria ajudá-lo a aceitar melhor as rotinas?

Como em qualquer situação da nossa vida, ter diretrizes exatas das ações a tomar seria facilitador e consequentemente os cuidadores ficariam mais seguros e confiantes das suas decisões. Mas é exatamente nas ações e decisões dos pais que reside o desafio da paternidade. No quotidiano, os pais lidam com dilemas que variam consoante a individualidade de cada criança e por isso não há receitas, mas há diretrizes importantes a contemplar para que consigam cada vez mais incutir algumas rotinas no dia-a-dia dos seus filhos.

“Chamo-o para jantar e não vem, para tomar banho repete-se a mesma situação… Ao fim de 5 vezes dou por mim a elevar o tom de voz para que o faça. De manhã é sempre a mesma correria e tenho de lhe dizer para fazer tudo, coisas tão básicas como tomar o pequeno-almoço. Porque não trazem as crianças um manual de instruções? Já tentei de tudo, sinto-me cansada, esgotada e não sei mais como lidar…”

Este tipo de discurso é ouvido vezes sem conta, não existem instruções rígidas a seguir de forma estruturada, mas serão mencionados alguns passos que devem ser considerados na definição de rotinas:

1º Passo – Elabore um RELÓGIO com a criança e nele descreva todas as tarefas, através de imagens, que pretende que execute;

2º Passo –  Defina TAREFAS ESPECÍFICAS, pois tarefas muito gerais podem não ser suficientemente claras para a criança, é preciso que perceba claramente o que se espera dela, por isso certifique-se de que compreendeu;

3º Passo –  Defina um PLANO, com a organização semanal das tarefas que devem fazer parte da vossa rotina, pode recorrer a uma tabela para o efeito;

4º Passo – DIVISÃO DE TAREFAS, poderão dialogar e/ou elaborar uma tabela, onde todos os membros da família colaborem nas atividades de casa. A divisão de tarefas leva a que os esforços sejam divididos, a que ansiedade e o cansaço do dia-a-dia diminuam e a que os momentos agradáveis em família possam aumentar;

5º Passo – COLABORAÇÃO, é essencial que ambos os progenitores tenham um papel ativo no estabelecimento de rotinas e que haja consistência entre ambos, para que a criança não tente modificar a rotina estabelecida;

6º Passo – CONFIANÇA, transmita confiança na forma como comunica com a criança quando estabelece a rotina e quando solicita uma tarefa, faça-o com assertividade e mostre-lhe que confia na capacidade dela executar a tarefa;

7º Passo – FLEXIBILIDADE, as rotinas não terão de ser rígidas todos os dias, quebrar pontualmente a rotina será também positivo para toda a família, no entanto convém primeiramente que as rotinas estejam estabilizadas;

8º Passo – ORGANIZE, por exemplo, selecione a ROUPA que a criança levará para a escola no dia anterior, dê-lhe a oportunidade de escolher entre duas hipóteses, não só facilitará a rotina da manhã seguinte, como trabalhará autonomia, responsabilidade e tomada de decisão.

9º Passo – ASSOCIE UMA ATIVIDADE ESPECÍFICA à HORA DE DEITAR, por exemplo, sempre que se lê uma história a criança saberá que se aproxima a hora de deitar;

10º Passo – Estabeleça os seus próprios LIMITES, perceba o tempo que tem e qual o seu nível de disponibilidade/cansaço e defina atividades exequíveis, por exemplo, jantares mais simples ao invés de refeições mais elaboradas. Não queira exigir de si em demasia, pois a ansiedade, o cansaço e os conflitos aumentarão e irão afetar a dinâmica familiar.

Estes 10 passos não são uma receita milagrosa para a implementação e aceitação das rotinas, cada criança é única e por isso pode manifestar mais ou menos aceitabilidade/rejeição. Todavia, é através da experiência e algumas vezes quase por tentativa-erro que é possível fazer o levantamento das estratégias que surtem mais efeito com aquela criança. É fundamental reconhecer a importância das rotinas para o desenvolvimento salutar da criança e estabelecer conjuntamente, de forma assertiva e concordante, como vão implementar os passos supramencionados. Os progenitores/cuidadores também têm a responsabilidade de proporcionar um ambiente propício à estabilização das rotinas, devendo também dar o exemplo com a concretização das tarefas para eles estipuladas. Devem ainda providenciar as condições necessárias para que os filhos sistematizem as rotinas (por exemplo, se decidiram que o momento de deitar é associado à leitura de uma história, não devem quebrar esta rotina com regularidade). Se as rotinas forem naturais no contexto familiar, a criança vai acabar por seguir o modelo que vê nos seus progenitores, pois elas não vêm com manual de instruções e aprendem muito por observação e imitação dos contextos em que estão inseridas. Como tal, é fundamental que os cuidadores tenham um papel ativo e estejam conscientes da necessidade de incutir rotinas na vida da criança, mas de forma saudável.

Nunca se esqueça de ser paciente e persistente, não chega aplicar os passos uma vez, terá de fazê-lo de forma continuada, pois a repetição leva à rotina e a persistência é amiga do sucesso.

Filipa Saraiva